“A dança tem o som dos meus ancestrais, o som da terra”

Para o maior tradicionalista da cultura gaúcha, reviver uma dança que descobriu em 1951, Jardineira, é um momento único. Para Paixão, ver os arcos da dança ornados com flores naturais, as orquídeas, é ver a comunidade ir de encontro ao desenvolvimento, sem perder suas raízes.

“As pessoas daqui se reencontraram, estão fazendo o futuro, mas vivem as suas heranças, pois não é só o viver, que é transitório, estão buscando nas raízes esse resgate cultural para perpetuar seus valores. Vejo aqui a preservação da memória de seus ancestrais”, declarou. “As flores representam um símbolo, elas homenageiam. Estão presentes em nossa vivência e em nossa despedida. Elas são cheias de significados”, acrescenta.

Paixão Côrtes representa o renascimento do tradicionalismo gaúcho. Em uma época em que as tradições rio-grandenses eram ignoradas, ele foi atrás das raízes de seu povo, juntamente com o amigo Barbosa Lessa. Como pesquisador, sua preocupação centrou-se em promover e desenvolver a cultura popular dentro da história do Rio Grande do Sul.

Paixão Côrtes dedicou a vida em resgatar e documentar a história do povo gaúcho como fonte de pesquisa para as próximas gerações. O folclorista João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes inspirou a criação da Chama Crioula e da Semana Farroupilha.

Em seu retorno, um ano após a primeira visita, o tradicionalista diz que a Paraíso das Orquídeas não é só uma vivência de lazer, é um lugar cheio de significados. Visa o progresso e o bem-estar coletivo, mantendo suas tradições. “É um horizonte de conquistas sem perder as origens. O povo daqui encontrou caminhos para o desenvolvimento econômico, mas partindo das raízes. Há um espírito de se preservar as tradições”, ressalta.

Conforme Paixão Côrtes, ser gaúcho é ter na alma esse sentimento. “A roupa, a dança, os costumes me identificam, representam minha cultura. Mas, a alma traduz o meu sentimento maior. Não é apenas só a visualização da indumentária gaúcha”, aponta.

Mais importante para o maior pesquisador da cultura gaúcha é poder sair da sua terra e ver que em outros lugares há as manifestações dessa herança cultural.

“Ao voltar aqui, tive a certeza da importância dessa comunidade para a região. Caracterizada pela hospitalidade, onde as pessoas vêm para refazer suas energias ou trocar ideias no desenvolvimento tecnológico e cultural. Estou retribuindo com o meu conhecimento o que o Paraná contribuiu para a formação do Rio Grande do Sul. As manifestações dessa comunidade perpetuam a cultura, preservam e divulgam com muita sensibilidade o que herdaram. Se você sabe sobre suas origens, não balança no futuro, porque você sabe de onde veio e para onde deseja ir”, aponta.

Na semana que antecedeu a vinda de Paixão Côrtes ao Paraíso, o compositor e instrutor de danças do CTG, instalado em Canoas-RS, o tradicionalista Diego Muller, acompanhou o Grupo de Arte Nativa Cheiro de Flor, onde durante sete dias orientou o grupo e ensaiou danças novas para a apresentação realizada no sábado, 21 de maio.

Uma data muito especial para a comunidade, onde jovens, adultos e crianças mostraram seu envolvimento com o resgate da cultura, evidenciando através da dança esse sentimento de regionalismo e cultura nacional.

Da redação: Ivanir Gebert